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Jovens e anciões indígenas do Mato Grosso do Sul criam caderno de mapas para apoiar na gestão de suas terras
Mais de 100 indígenas do povo Terena participaram de expedições e oficinas para a formação de agentes ambientais, no Mato Grosso do Sul, em 2024, para fortalecer a gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas (TI) Buriti, Cachoeirinha e Taunay-Ipegue. A iniciativa aproximou jovens e anciões, resultando na elaboração de uma publicação com mapas e histórias dos territórios. A produção do “Caderno de mapas” foi uma das etapas que auxiliou na construção do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) — instrumento para a gestão territorial e ambiental de terras indígenas — e faz parte do projeto “Construindo PGTAs no território Terena: cuidar da nossa terra, semear nosso futuro”, apoiado pelo Programa COPAÍBAS. O projeto beneficia mais de 11 mil indígenas de 21 aldeias.
“Os cadernos são o produto final da formação dos agentes ambientais e, ao mesmo tempo, fazem parte da etapa de etnomapeamento, essencial para a construção do PGTA. A atividade esteve alinhada aos objetivos do projeto e promoveu os diálogos entre jovens e anciões e, ajudou a fortalecer o Conselho do Povo Terena”, explica a coordenadora Carolina Perini, que conduziu essa ação estratégica pelo Centro de Trabalho Indigenista.
As publicações reúnem fotos, anotações e ilustrações a partir de informações coletadas em campo e de histórias relatadas pelos anciões das aldeias sobre importantes pontos históricos indígenas. O conjunto de ações visa aumentar a autonomia das comunidades nos processos relacionados à gestão de seus territórios, ao mesmo tempo, contribuindo para a conservação e proteção da biodiversidade do Cerrado.
Mapas e histórias
A iniciativa de elaboração de um caderno de mapas partiu dos Terena, que, valorizam suas escolas, livros e cartografia. Stefanie Dias, de 18 anos, da TI Cachoeirinha, explica que um dos pilares de seu povo é a educação. “Participar da produção dos cadernos de mapas foi uma honra para mim, porque aprendemos com as trocas com os anciões sobre alguns pontos históricos indígenas inesquecíveis. E, isso, nos aproximou mais deles, que, hoje, já estão em idades avançadas, entre 80 e 90 anos. Entendemos que com a escrita e educação, nós vamos preservar nossa cultura e valorizar nosso território”, diz a jovem da TI Cachoeirinha.
Na publicação da TI Buriti, um dos mapas ilustrados traz um local denominado como ‘Retomada Ricardo Bocha’. De acordo com os anciões, ali ocorreu a morte de um importante guerreiro e o local se tornou sagrado. Já no caderno da TI Taunay-Ipegue, um jovem ilustrou uma antiga escola missionária, que serviu para a evangelização do povo Terena. Ao redor da antiga construção, anciões contaram que ajudaram a plantar as mudas de mangueiras, trazidas pelos padres franciscanos.
Marília Terena, de 21 anos, também participou do curso de agente ambiental e da produção do caderno de mapas da TI Buriti. Ela destaca que a formação possibilitou o conhecimento sobre as nascentes do seu território. A jovem foi criada no território Buriti e estudou na escola indígena na aldeia Tereré. Atualmente, ela cursa o 3° ano de Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. “Foi muito bom participar, porque nos aproximou dos parentes de outras terras e conhecemos antigos locais de pesca com os anciões. Também aprendemos sobre a importância das nascentes. Eu sempre andei pelos locais do território, mas não conhecia bem os nomes e nem sabia da importância de muitos deles”, diz ela, que pretende se especializar na área de geoprocessamento e cartografia.
Ao todo, 33 jovens indígenas concluíram o curso de formação de agentes ambientais, participando de oficinas que abordaram conhecimentos sobre como PGTAs são elaborados, história sobre a demarcação de TIs e noções de cartografia. O curso foi ministrado por especialistas, como o advogado Eloy Terena, o antropólogo Gilberto Azanha e a antropóloga Mariana Guimarães.